A partir de hoje, começamos a publicar aqui em nosso blog, uma série de entrevistas com artistas e pessoas que marcaram a trajetória da Curta Dança. Começamos com Bruno Novais, que participou das edições 2019 e 2021 da nossa mostra!
Conte um pouco para nós sobre a sua trajetória na dança.
Minha trajetória na dança inicia desde quando eu tentava imitar o Michael Jackson e outras referências do R&B na minha casa. Meu primeiro curso de dança foi em 2007 com Dança em Salão em Guarulhos (cidade na qual eu nasci). Mudo para Bragança Paulista (interior de SP) em 2008 e experiencio por 1 ano integrar uma Cia. De Flamenco de 2014 a 2015, mas sempre levando o hip Hop comigo em meus trabalhos paralelos. Quando íntegro um grupo de teatro e dança contemporânea na mesma cidade, descubro como misturar todos os meus conhecimentos em uma dança que é MINHA, que fala da minha história. Com isso, mudo para Salvador em 2016 e início a graduação em dança. De lá pra cá, já realizei duas graduações, uma especialização e estou terminado o mestrado na mesma área. Atuo como diretor, interprete criador, produtor cultural, publicitário e editor de vídeo em um núcleo chamado EUS (Etnografias Urbanas Subversivas), no qual focamos em uma estética negra e seus intercâmbios com outras temáticas como género e sexualidade, feminismo negro e ancestralidade em cena.
Quando foi sua primeira experiência no Curta Dança?
Minha primeira experiência no Curta-dança foi em 2019, em sua 4° edição quando apresentei o meu solo intitulado Garra. Foi a primeira vez que viajei sozinho para apresentação de um trabalho e foi incrível. Fui super bem recebido, fiz amigues que levo pra minha vida até hoje e ainda comi bastante queijo com doce de leite (kkkkkk).
Como foi o dia em que você descobriu que tinha passado no mestrado em pleno festival?
Foi incrível, eu soube do resultado 1 hora antes de entrar em cena. Sinto que a notícia potencializou o meu solo e confirmou todo o meu esforço e trabalho. No bate-papo logo após das apresentações daquele dia (09 de dezembro para ser mais exato, jamais esquecerei dessa data... Kkkk) pude dar a notícia para todo o público e os colegas artistas que estavam presentes comigo. Enquanto um artista negro e gay, que venho de um contexto periférico e consigo compartilhar uma boa nova logo depois de uma apresentação, foi uma conquista que jamais esquecerei. E poder divulgar isso com a galera do curta-dança só melhorou essa sensação.
Como alia teoria e prática em sua pesquisa como dançarine?
Minha pesquisa vem da minha experiência de vida enquanto uma bixa preta. Atualmente estudo sobre a pluralidade dos afetos negros e LGBTQIAP+ na dança contemporânea. Falar sobre afetividade nessa área, é trazer uma potência de corpo, alma e sentimento em danças criadas como forma de resistência e (rê)existência. Atualmente estou desenvolvendo uma metodologia em dança intitulada Mapeamento dos afetos, que consiste em um procedimento de reflexão e escrita pelo corpo utilizado como disparador para processos criativos. Penso que refletir sobre afetos pretes na dança nos permite acessar outras nuances de potencias dramatúrgicas. Ao mesmo tempo que registro essas escritas nos meus artigos e trabalhos acadêmicos, citando autores como bell hooks, Silvia Almeida, Renato Noguera, Sobunfu Somé entre outres, eu exército no meu dia a dia uma escrita corporal em minhas criações.
O que te marcou na edição 2021?
Eu nunca tinha feito uma residência tão grande a partir dessa metodologia que venho desenvolvendo desde de 2018. Acompanhar as descobertas de cada participante de suas danças partindo de seus afetos individuais e coletivos, com certeza foi muito marcante. Os depoimentos finais também mexeram muito comigo, me mostrou que estou no caminho certo.
Como foi conduzir uma residência?
Conduzir uma residência online sobre afetos nesse momento que estamos vivendo focada nas corpas pretes e LGBTQIAP+, sem dúvida foi de extrema importância. Mesmo com a distância física, senti uma conexão muito forte do grupo, pontuando um cuidado extremo na maneira de interagir uns com os outres. Apesar de ter mediado, para mim é uma troca, aprendi muito com todes e espero poder viver outras tantas experiências tão boas quanto essa.
Para você que participou da última edição presencial em 2019, o que mudou para esse ano online?
Tudo muda né, apesar de ter sido incrível e enriquecedor nesse modo virtual, estar perto, sentir o calor do outre, não tem preço. Admirei muito o cuidado, eficiência e agilidade da equipe do curta-dança, que conseguiu deixar esse processo bem mais leve. As duas experiências foram incríveis, cada um com os seus altos e baixos. O virtual permite conectar pessoas que talvez o presencial não permitisse. Então considero ambas valiosas.
Quais as expectativas para a próxima edição presencial (torçamos que em 2022)?
A minha primeira expectativa é conseguir integrar novamente o quadro de oficineires e/ou artista apresentando (kkkkk). Eu só consigo esperar coisas boas desse festival e equipe de produção, pois ambas minhas experiências foram incríveis como mediador, intérprete criador ou público. Espero ansioso que estejamos em tempos melhores para poder abraçar e dançar lado a lado com essa galera linda!!!
Sobre Bruno Novais
Atualmente estou mestrando no programa acadêmico de Pós-graduação em dança da UFBA. Licenciado e Bacharel em dança pela Escola de Dança da UFBA. Interessado em pesquisar a afetividade negra enquanto instrumento propulsor em processos criativos. Dançarino, produtor do Núcleo EUS. Entre os seus principais trabalhos concebeu e dirigiu o espetáculo "POC - Pretas, Ousadas e Contemporâneas" (2019), dirigiu e interpretou o solo/espetáculo "Amargo: Uma reflexão performática sobre afetividade negra" (2018) e o "Experimento Negras Utopias" (2017) em parceria com Eduardo Guimarães. Produziu e organizou quatro edições da Mostra Etnografias Urbanas (duas presenciais e duas online) com o Núcleo EUS (2019-2021) e o 3º FNAC - Fórum Negro de Arte e Cultura junto com docentes e discentes das unidades de artes da UFBA.
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